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20 de junho de 2010

dos brinquedos



Sempre me intrigaram aquelas bonecas russas que guardam pequenas versões de si mesmas até chegar a uma menorzinha, que mantém os mesmos detalhes de pintura das bonecas maiores, mas não contém nenhuma outra dentro.

O que me encanta nas matrioshkas é não saber exatamente qual história dar elas.

As bonecas já me pareceram uma família – poderiam ser várias irmãs, da mais velha à caçula – ou a sucessão de gerações de mulheres ligadas pelo sangue, histórias, nascimentos, memórias e receitas compartilhadas entre cozinhas, quartos e varandas.

A possibilidade mais recente que me apareceu foi de que a matrioshka seria uma única mulher, já que elas mantêm um nível de semelhança entre si que não se vê entre irmãs, filhas, netas e por aí vai. Por isso, a boneca pode ser um indivíduo e cada tamanho corresponderia a uma fase da vida ou a um papel social – com seu tamanho de acordo com a importância que se dá a ele.

Ainda assim, não se pode dizer que a Mamuska – quem geralmente vemos primeiro – dá a luz às que não lhe deixam ser vazia. Tenho pensado muito na pequenina, a que seria a última, guardada e protegida entre ventres, como um segredo. Não seria ela a origem? quem cresce e se protege em diferentes versões de si mesma, uma para cada forma de encarar o mundo?

Disfarçada na robustez de ser capaz de tanta coisa, a matrioshka a abrigar em si tantas mulheres seria apenas uma das formas como a pequenina deseja se mostrar. A versão que torna mais visíveis os detalhes intricados dos traços quase imperceptíveis numa bonequinha.

Gosto de matrioskas porque elas me provocam perguntas e rendem belas metáforas. Talvez seja apenas este tipo de desculpa de que preciso como um novo ponto de partida.