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19 de setembro de 2010

depois do fim do fim

Ele se me pergunta por que ainda atendo seus telefonemas e minhas explicações nunca dão a extensão da coisa. O fato é que não gosto de remexer essa história e recontá-la pelo lado de dentro. Sem cronologias causefeitos detalhes – eles importam, mas não ajudam a compreender as impressões, se bem que um motivo pra ‘alô - e aí, como você tá?’ e o resto e o superficial seja a inofensividade da conversa que vem do nada para lugar nenhum.

Atendo porque não: não há nada íntimo a ser dito, não há mágoa que me impeça a educação, não há saudade que torne o diálogo memorável e/ou perturbador.

Um ano atrás um pouco mais, talvez eu ainda especulasse o motivo do seu gesto em direção ao passado, um pretérito distante em que os traços que mantinham o entendimento se tornaram escassos.

Há dias em que esse vazio evocado por uma tentativa de conversa me soa a realização da profecia de que eu saberia muito bem viver sem você. Nós sabíamos, mas não o quanto.

Me fica uma tristeza de seus telefonemas espaçados hesitantes. Mostram como tempo e escolhas desfizeram algo em que acreditei. Devia ser inocência crer que acabado o envolvimento e a mágoa, poderíamos continuar conversando – talvez ignorasse que o afeto sustentava o assunto ou achava que a troca nos trazia alguma lucidez porque o conhecimento dos erros antigos poderia clarear novos caminhos.

Mas o verbo evapora e os fatos revelam a superficialidade do discurso. Monólogos que não buscam o outro senão como ouvido. E ouço, ainda, porque não me convém revirar nenhuma antiguidade para justificar o corte abrupto desse arremedo de assunto. Deixo a coisa correr sem sentido nem memória, porque qualquer atitude de te rejeitar, dizer que você não faz parte da vida que levo, recusar seus telefonemas ou te manter como segredo para o meu amor, evoca suas atitudes que me doeram.

É possível que a única razão de não te banir seja orgulho: a serenidade de não te guardar como algo escuso que precise escolher ou ignorar, posição de tudo-ou-nada na qual você me pôs porque eu me opunha ao que você abraçava ao me deixar para trás. Orgulho por saber que resolvida nossa história não me caiba o que recusar: e mesmo vazios esses esboços de diálogo eu os tenho. Por preferir não te expulsar de onde uma pessoa se considera acolhida, para que você não tenha a dor que conheci. Não se ache no direito de se sentir mártir, em meio a ofensa da negação e do silêncio quando hoje traz apenas boas intenções de me desejar felicidade – quando há muito você e minha felicidade não tem mais qualquer espécie de ligação.

4 comentários:

teo disse...

Cada frase com uma carga enorme de significado. Talvez por isso eu tenha sentido que isso foi quase pra mim. Confundi minha vida com a sua escrita.
Você escreve parecendo que está recortando pedaços de uma cronologia que, postos em outra ordem, adquirem um sentido muito verdadeiro. Me gusta mucho.
(:

Mari disse...

aplausos! muitos!

bjs

Bruno disse...

Admiro isso porque eu sou ruim e não atendo. :P

E, nossa, Stephie, cada vez melhor, viu? Cada vez melhor. :)

Ayone disse...

dia desses encontrei seu blog, volta e meia volto p ler isso aki. Entao choro...é q me toca muito...sei q ainda vou voltar, ler e chorar de novo...