Pages

8 de julho de 2010

Bs As





te procuro, Julio, ouvi dizer que há uma praça com seu nome - encontro Cronópios pichado na avenida de mayo, queria fotografar, mas nem tentei. Trago, mais pegado do que gostaria, o medo das cidades à noite, assaltos, muito tempo sendo alvo fácil, a mocinha só e por mais que agora tenha esta mão que me ampare, ainda me pego desconfiando de figuras paradas nas esquinas, passos apressados às minhas costas.

Talvez devesse te buscar em Paris– mas talvez aqui, entre cafés, os contrastes da arquitetura, as pequenas livrarias, pessoas inquietas e desencantadas pela crise e a inflação, as palavras de ordem nas paredes questionando o sistema, consiga captar algo – um relance do que tenha te instigado antes de cair pro velho mundo

ainda penso nela, Julio, na Maga. Caminhei por Palermo procurando a avenida Jorge Luis Borges para chegar a uma ironia que seria uma das minhas esquinas literárias do coração, quando a Borges leva à praça Cortázar. Vendo as casinhas antigas me pergunto se ela também não teria voltado de Paris, para uma região como aquela. Não teria ela cruzado o atlântico sabendo que de nada adianta fugir ou tentar se encontrar nos braços de um homem incapaz de suportar a si mesmo.

penso nela porque gostaria de sabê-la ali ou talvez no interior da França, numa existência simples como era capaz de ter, guardando sua dor como uma sabedoria secreta sob o riso aberto e seus gestos desengonçados.

na praça, nada me lembra você – o microcentro emocionou mais, especialmente a pichação – parei para um vinho e contemplar rua. Quantos passariam por ali chamando a J.L. Borges e a praça Cortázar ainda por Serrano, quando eu tinha a alegria boba de pensar: então, uma homenagem aos meus queridos. Pura meninice.

voltarei, Cronópio, talvez antes de procurar em Paris, sabendo mais de mim, da cidade, para me surpreender um pouco mais com os sabores, eletrotangos, o calor das pessoas calejadas pelo difícil e desta vez, sem placas mapas e o encantamento deste ineditismo te perceba um pouco mais – para além das fotografias e amplas avenidas portenhas.

4 comentários:

Bruno disse...

Se eu te contar que eu li esse post sorrindo da primeira até a última palavra, vocês acredita?

Acho que porque sei o que isso deve ter significado pra você.

Sylvia Araujo disse...

Boniteza demais essa tua fluência, enchendo o espaço de imagens e significâncias. Vim do Leveza pra cá, e olha que coisa, saí levitando.

Beijo pra você

Mari disse...

New begginings! Um brinde!
Tanto sucesso aqui quanto lá querida!

também estive na praça procurando Cortázar, mas eu era bem mais jovem e bem mais boba e por isso, minha atenção aos detalhes não foi tão grande quanto a sua.

Beijos!!

Anônimo disse...

Que lindo espaço novo, adorei os retalhos no fundo. Lindo texto, a sensibilidade com as palavras continua a me cativar. Quero passar por esses lugares, de preferência com a mão que me ampara

Beijos
Líria