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20 de julho de 2010

entre as pontas



faz parte da minha felicidade chorar em aviões. Ninguém associa felicidade à moça de óculos escuros com o rosto voltado para janela enquanto as lágrimas escorrem, mas é isso mesmo - entre uma insipiração mais funda pra evitar um soluço, agradeço: aos deuses, à vida, ao acaso. não é qualquer coisa que provoca transbordamentos despudorados em transportes coletivos

o que me dói é a ponte. Impalpável e silenciosa, a distender o amor - que embora o bastante para resistir às raízes em terras tão diferentes, se recente de expandir-se, recolher-se no longe-perto

é feliz sentir minha vida se espalhar, apesar de uma tristeza me ver onde me cabe cada vez menos estar. se misturam o desejo de independência e espaço, o para enfim deixar ninho e se achegar mais pro seu lado onde preciso pisar firme e mansa, sem me deixar atropelar por tanta informação, a vertigem da cidade, o que você me traz de novo e o que desejo descobrir - mas saber dessa precisão nem me espanta porque você acaba me pegando numa meninice na curva de um olhar atento

tenho pensado nas facetas inusitadas de ser feliz. esse silêncio porque a experiência roça o indizível, a simplicidade que não vira crônica ou história de bar, teu cheiro de banho recém tomado. o peso das horas que precedem o embarque, o travesseiro molhado na primeira noite sozinha ao chegar


na imagem, uma das pontes japonesas de Monet 

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